De joelhos, na borda de um
ancestral precipício, preenchido de corpos.
Com anos de decomposição conjunta
eles se unem, em uma grossa pasta turquesa.
Se examinar minuciosamente a superfície,
posso ver linhas que se alongam para dentro de si mesmas, formando expirais giratórias,
que rodam pesadamente.
Aspiro o ar que paira acima daquele
musgo.
Sou afagado pelo seu fedor, o
tremor crescendo entre meus pulmões e se espalhando, enquanto cravo as unhas nas palmas.
Mergulho minha cabeça nesse rio, em
puro deleite.
Abro minha boca em um grito
abafado, minhas narinas aspiram o máximo que podem
Sinto o licor correndo,
adentrando meu corpo, descendo minha garganta, entrando em meus olhos,
penetrando cada poro, em um fluxo lento.
Ele caminha pelas minhas veias,
diluindo o sangue, escorrendo para cada ramificação, irrigando a carne, sustenta
e regenera cada osso. Corre em direção
ao meu coração, que se debate de forma descompassada, passando a
bombear o licor.
Estou em pleno êxtase, arrepios
sobem sucessivamente pela minha espinha, estremecendo todo meu corpo em cargas
consecutivas.
Enfim emerjo do lodo, a pasta
escorrendo pesadamente pelo meu queixo e caindo em gotas gordas de volta na
infinita fonte de prazer.
Mantenho-me
do que já senti
Vivo morto
do
que está.
CONVERSATION