Finito Olhar

A luminosidade era escassa, pequenas lampadas amareladas, embutidas no teto, lançavam uma luz débil no ambiente de paredes e chão escuros. Isso criava uma atmosfera onírica, como se tudo o que é material, com exceção dos corpos humanos, se fundisse em um plano de fundo sem grande relevância, restando apenas os seres ali presentes.
Eu de pé, ela a alguns centímetros de mim, estava completamente imersa naquela atmosfera, onde a linha entre o físico e o mental se borravam. O tempo naquela sala era ausente da noção de mortalidade ou dever, como a atemporalidade de uma ilusão. Seu braço se movimentava nesse ritmo, fluindo pelo ar, até me tocar com a ponta dos dedos. Virei-me, sem sair do lugar, movendo apenas minha cabeça, podia ver exatamente metade de seu rosto, a centímetros de mim.

Olhei em seus olhos.

Quando analiso as iris erradas, elas são uma membrana plana, com uma ampla variação de cor, mas sem calor biológico, como se feitas de tecido, servem de ponte de sustentação entre a esclera e a pupila. Até mesmo o cristalino parece refletir a luz de forma opaca, tornando toda a construção nebulosa.

Porém, nos olhos que analisei, percebi a abrangência de um universo. As iris eram feitas de fendas, como grandes escarpas, que corriam até o fim da membrana. Uma vale de elevações, feitas de milhões de grãos castanhos, separados por precipícios, como a superfície granulada da lua é separada por crateras. Imaginava uma imensidão tão complexa quanto, vivendo entre aqueles vales.

Todas aquelas escarpas corriam em direção a um profundo ponto de escuridão que emanava o magnetismo de um planeta, como se toda aquela membrana não passasse de um satélite, a promessa do universo que se seguia, dentro daquelas pupilas. Por um instante, tive a sensação de que seus olhos eram o centro de gravidade que atraia toda aquela sala, sustentando toda a realidade como uma estrela sustenta um sistema de planetas, o que era real orbitava paradoxalmente fixo e estável, em volta de um ponto principal.

O corpo a minha frente era a prisão do infinito.


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