Unhas Incandescentes

Algo espreita atrás das unhas em carne viva,
atrás dos lábios inchados,
dos pontos brancos de pus.
Um sentimento sem nome,
um pensamento natimorto,
algo podre.
Expirado, mas nunca experimentado.
A engrenagem chave se encontra enferrujada, sem nunca ter sido encaixada no gritante vazio centrado na maquina defeituosa.
A fonte de toda a aflição se arrasta pelos dias, meses e anos,
um caroço nos versos dos círculos rasos das pupilas,
uma poeira empurrada para baixo do tapete,
uma tarefa mal resolvida.

O inconsciente me guia pelo caminho da sanidade,
meus dedos dançam, libertos,
gritam a verdade negra presa ao fundo branco,
escrevem o que sou, contam o que não tenho coragem de ouvir.
Mas mesmo a torrente que flui pela pele pode não responder,
nomear, usar, retirar,
nem mesmo esse fluxo parece ter a solução.

Evito, convenço-me que na realidade essa aflição é completamente imaginaria, loucura, irracionalidade, inexistente, filha da loucura, da ausência.
Me cubro de ficção, busco distração
em conversas que servem apenas para tanger a aflição,
dando volta  pelas bordas,
caminhando por uma espiral.
tangendo um cadáver,
sem conseguir escorregar pro centro.
Vivo e ignoro a irracionalidade e a semente de loucura inexistente.

Mas, quando acordo, me debruço sobre o espelho e vejo meu reflexo,
não tenho dissimulação o suficiente para mentir sobre o nódulo que faz volume por trás das minhas pupilas,
não posso negar o caroço contornado pela escuridão, enrugando no vazio em torno de si.
Além do seu espectro,
vejo a mim,
refletido em mim mesmo.

A imagem deformada por aquela elevação, aquele pequeno verme em eterna putrefação.
Me aproximo mais do espelho, em busca de uma resposta, de uma salvação,
de um nome para o demônio que brinca no negrume dos meus olhos.

Dentro do âmago, o verme inominável espreita,
cego.


Share this:

CONVERSATION

0 comentários:

Postar um comentário